As aplicações cibernéticas na neurociência e saúde mental desafiam os limites éticos e filosóficos. A fusão de conceitos cibernéticos com processos neurológicos levanta questões fundamentais: o que significa ser humano? Como as máquinas podem alterar nossa cognição? E como essas mudanças poderão impactar as relações sociais e culturais?

Assim como toda moeda tem dois lados, o "neurocibernético", como irei chamar, também possui o seu. De um lado, há o potencial transformador. Interfaces cérebro-máquina (ICMs), realidade virtual para reabilitação neuropsicológica e o uso de inteligência artificial no diagnóstico e tratamento neurológico oferecem um futuro promissor. Contudo, essas inovações também trazem desafios profundos.

Embora as interfaces cérebro-computador tenham fins nobres, como a reabilitação e a comunicação, elas levantam preocupações éticas. Procedimentos invasivos podem causar infecções, e os dados neurais coletados são vulneráveis a violações de privacidade e segurança. Além disso, a integração da inteligência artificial na saúde, apesar de seus benefícios, pode gerar medo e ansiedade, especialmente entre aqueles que não compreendem ou confiam plenamente nessas tecnologias.

Hoje, já carregamos um fardo maior do que podemos suportar: o maior vilão desta década tem sido a superexposição às tecnologias digitais. Estudos demonstram que o uso excessivo dessas ferramentas pode levar a alterações cognitivas, como dificuldades de atenção, impulsividade e mudanças no sistema de recompensa do cérebro. Basta observar o comportamento de uma criança desta geração: dispositivos móveis muitas vezes dominam suas rotinas, moldando padrões cognitivos e comportamentais de forma preocupante.

A pandemia de 2020 acelerou ainda mais esse avanço cibernético. Isolados do mundo físico, mergulhamos profundamente no virtual. O tempo de tela aumentou drasticamente, deixando um legado que ainda molda nossa relação com as tecnologias digitais e suas consequências para a saúde mental e social.

O futuro é promissor, mas também perigoso. Cabe a nós navegar por essas águas com responsabilidade, aproveitando as oportunidades do "neurocibernético" enquanto enfrentamos os desafios éticos, psicológicos e sociais que ele inevitavelmente traz.